Muitas empresas afirmam ter uma cultura de erros, mas entre o discurso e a prática, há uma longa distância; na Creditas, até para errar é preciso ter um método, conta Vinicius Goromar
Bruno Capelas – Purple Metrics
Talvez você já tenha ouvido falar de muitas empresas que têm uma “cultura de aprendizado”. Mas transformar esse discurso em prática é um pouco mais difícil do que escrever palavras bonitas: afinal de contas, se testar parece fácil, aceitar os erros e saber como transformá-los em aprendizado é um grande desafio. É o que a gente aprendeu com o Vinicius Goromar (Linkedin), Diretor de growth da Creditas, no Open House – evento de pré-lançamento do Purple Metrics em São Paulo no último dia 16 de maio.
Para o Vinicius, para criar uma cultura de testes não basta apenas escolher bem as hipóteses — é sobre criar um ambiente em que seja possível errar, aprender e, principalmente, testar de novo, transformando os aprendizados em um método eficaz.
Na Creditas, essa jornada começou quando a empresa percebeu os limites do crescimento baseado exclusivamente em mídia de performance. Durante anos, o investimento estava concentrado no fundo do funil. E funcionava — até deixar de funcionar. Foi aí que o time de Growth percebeu que o caminho do crescimento sustentável exigiria outra abordagem: a criação de uma máquina de experimentação contínua, onde cada tentativa, acerto ou erro alimenta a próxima decisão.

Errar com método e aprender com intenção
“Se você não pode errar, também não pode testar”, afirmou Vinicius. A frase resume bem a base da cultura científica que ele ajudou a desenvolver na empresa. A prática envolve começar pequeno, medir bem e transformar cada erro em acervo para o futuro.
Na Creditas, testes não são apostas cegas. Cada experimento é planejado com base em dados mínimos necessários e orçamentos delimitados. Para Vinicius, o erro mais comum é assumir que o sucesso de um teste depende exclusivamente do seu resultado direto. “O verdadeiro valor está na segunda e terceira derivada: por que funcionou? Por que não funcionou? O que aprendemos sobre o comportamento do cliente?”
Essa filosofia ficou clara quando, ainda em 2016, o time de Growth decidiu experimentar anúncios em redes sociais — com orçamento zero. “Escrevemos o roteiro em uma folha de sulfite e filmamos com um iPhone velho”, conta. O resultado? Depois de uma dezena de tentativas e refinamentos, o formato virou case global na Meta, multiplicando por dez os resultados em dois meses. “Agora imagina se a gente tivesse parado na nona tentativa?”, brincou o executivo.
Testar é só o começo: criar estrutura para escalar
Para sustentar uma cultura de testes, é preciso mais do que boa vontade: é preciso estrutura. A Creditas criou um time técnico, com profissionais híbridos de marketing, dados e tecnologia, para garantir que os testes gerem insights confiáveis e sejam escaláveis.
Essa estrutura também garante uma característica essencial da cultura: o aprendizado não pode se perder. Toda experimentação gera documentações, relatórios e fluxos de conhecimento que retroalimentam decisões estratégicas — do branding ao produto. “A riqueza dos dados de hoje permite a criação de diversos modelos para você enfiar dados dentro da decisão principal”, diz ele, que já está usando o Purple Metrics dentro desse processo. “Hoje, o Purple é uma das principais variáveis do nosso modelo interno.”
Além disso, Vinicius destaca a importância da clareza: “Seu recorde histórico nunca pode ser o baseline. Sempre separe uma fatia da base para testar. A gente, por exemplo, testa com 5% da base de clientes e garante o restante do resultado com o que já sabemos que funciona.”
Testes não são só técnicos — são também culturais
Mesmo com métodos e estrutura, criar uma cultura de testes exige uma transformação interna. É preciso, segundo Vinicius, educar a empresa para entender que o marketing não é uma função linear, onde cada real investido gera um retorno garantido.
“Nosso papel é atuar como uma consultoria interna”, disse. “Explicar que há diferentes perfis de cliente, momentos de decisão variados e que o retorno marginal de cada real investido muda com o tempo. A empresa precisa entender que saturação acontece — e que investir no topo do funil, mesmo sem retorno imediato, pode ser a melhor escolha estratégica.”
Essa educação é um dos pilares do trabalho de growth na Creditas. O time não só mede e testa, mas também ajuda a companhia a ajustar suas expectativas à realidade do mercado. Porque, como Vinicius bem colocou: “O fato de você colocar no Excel não significa que o mercado vai se comportar daquela forma.”
Pot-pourri: mais aprendizados de Vinicius Goromar sobre marketing, growth e dados
Ao longo do papo no Open House, o Vinicius Goromar também dividiu alguns insights bacanas sobre outros temas que não cultura científica no marketing. A seguir, confira alguns deles:
A importância do profissional híbrido
Engenheiro físico de formação, o Vinicius teve boa parte da sua trajetória como líder de marketing dentro da Creditas, onde está há oito anos. Para ele, o melhor perfil de profissional hoje é híbrido. “Os profissionais híbridos — que entendem marketing, dados e tecnologia — são essenciais. Eles são quem integram os sinais e garantem que a operação funcione.”
O impacto de IA já está aí
Enquanto muita gente no LinkedIn está falando sobre como a IA é a nova busca, a Creditas já sente esse tipo de resultado na prática. “Hoje, 35% do nosso tráfego orgânico vem de IA. O tipo de busca mudou. A gente não otimiza mais só para palavra-chave, mas para intenção e contexto”, contou o Vini. É um sinal dos tempos: a evolução exige novas estratégias de conteúdo, voltadas não apenas para palavras-chave, mas para intenção de busca e contexto do usuário.
Se o funil satura, é preciso mudar de estratégia
Uma das grandes conversas em torno do marketing hoje é a saturação de campanhas de performance. Na Creditas, Vinicius criou um método empírico para saber quando é hora de revisar a estratégia. “Se você coloca mais dinheiro e o CAC marginal explode, é sinal de que esgotou o fundo do funil. A curva de saturação avisa antes da queda”, conta ele, que está continuamente fazendo testes para identificar o momento certo de migrar o orçamento para novas frentes.